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Straube, F.C. & Pacheco, J.F. 2002. Phylloscartes paulista: uma grafia correta para Phylloscartes
paulistus. Ararajuba 10(1):83-84.
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Phylloscartes paulista: uma grafia correta para Phylloscartes paulistus
Fernando Costa Straube1 e José
Fernando Pacheco2
1.
Mülleriana: Sociedade Fritz Müller de
Ciências Naturais. Cx.P. 1644. Curitiba, PR -
Brasil. 80011-970. CBRO: Comitê Brasileiro de Registros Ornitológicos. E-mail:
urutau@terra.com.br.
2. CBRO: Comitê Brasileiro de
Registros Ornitológicos. E-mail: jfpcbc@alternex.com.br.
ABSTRACT.
Phylloscartes
paulista: a correct spelling for Phylloscartes paulistus. Phylloscartes paulistus is a rare
Tyrant flycatcher restricted to localities along the Atlantic Forest of Brazil,
Paraguay and Argentina. The species was described and named by Ihering and
Ihering in the early nineteenth century as P. paulista, but subsequently
modified to P. paulistus by Hellmayr. Without explicit justification,
the latest author probably based his change on gender concordance to the
generic name. However, the act 2.3 of the current International Code of
Zoological Nomenclature (ICZN) declares that non Latin or latinized names
originally assigned to species groups should remain indeclined.
"Paulista" is either an indeclinable adjective or noun in Portuguese,
and even though the sufix “–ista” may derive Greek or Latin, the Art. 31.2.2 of
the ICZN states that it is to remain unchanged when the authors do not mention
its derivation. The basis of the original name is not decisive and, therefore
it is mandatory that the “incorrect subsequent spelling” Phylloscartes
paulistus revert to the “correct original spelling”: Phylloscartes paulista.
Key words: Phylloscartes
paulistus, spelling.
Palavras-chave: Phylloscartes paulistus,
grafia.
Phylloscartes
paulistus é um raro Tyrannidae, restrito à Mata
Atlântica sensu lato (MMA 1999),
registrado em um pequeno número de localidades do sudeste-sul do Brasil
(Espírito Santo a Santa Catarina) e em algumas regiões brasileiras
compreendidas pelo prolongamento desse bioma para o interior (Minas Gerais e
Mato Grosso do Sul), bem como o leste do Paraguai e nordeste da Argentina
(Collar et al. 1992:765-7; BirdLife
International 2000:394).
A
espécie foi descrita por Hermann e Rodolpho von Ihering, no primeiro volume do
"Catalogos da fauna brazileira" (Ihering e Ihering 1907:272),
considerado um clássico da Ornitologia no Brasil. Apesar dos autores da
descrição terem usado originalmente a grafia paulista, essa foi modificada para paulistus por C. E. Hellmayr (In
Cory e Hellmayr 1927). Embora não justifique tal alteração, Hellmayr obviamente
julgou que era imperativo concordar o nome da espécie
com o gênero Phylloscartes, masculino
(Jobling 1991, Pereira 1998), levando em consideração a desinência
"-a" que é em geral, mas nem sempre, indicativa de gênero gramatical
feminino (Coutinho 1976). Não consta existir na literatura, desde então,
qualquer comentário ou alusão à validade desta alteração.
Um
dispositivo do ICZN (1999:Article 31) estabelece que deve haver concordância do
gênero gramatical dos nomes do "grupo de espécie" com aquele do nome
genérico. Todavia,
a cláusula 2.3 registra: “If a species-group name is not a Latin or
latinized word, it is to be treated as indeclinable for the purposes of this
Article, and need not agree in gender with generic name with which it is
combined (the original spelling is to be retained, with ending unchanged)”.
"Paulista"
é adjetivo e substantivo de dois gêneros (portanto, invariável), com a acepção: relativo a São Paulo, estado do
Brasil, ou o que é seu natural ou habitante (Souza 1927, Houaiss e Villar
2001). É palavra da Língua Portuguesa (1844), diretamente formada pelo topônimo
(São) Paulo + o sufixo "-ista" (Cunha 1982:588). Embora, o sufixo
"-ista" esteja presente no grego e no latim (Cunha 1982:448), donde
"paulista" poderia ser considerado termo latinizado, é preciso notar que
o ICZN (1999) adverte no Art. 31.2.2: “Where the author of a species-group
name did not indicate whether he or she regarded it as a noun or as an
adjective, and where it may be regarded as either and the evidence of usage is
not decisive, it is to be treated as a noun in apposition to the name of its
genus (the original spelling is to be retained, with ending unchanged)”.
Ihering
e Ihering (1907:272) não indicaram se "paulista" era adjetivo ou um
substantivo em aposição. Embora seja razoável que os autores tenham usado a
palavra como adjetivo, conquanto seja também um gentílico, não é possível
descartar a possibilidade de que "paulista" possa ter sido usado como
nome (um substantivo em aposição) para apelidar a pequena ave.
Desta
maneira é imperativo que, em consonância com os dispositivos do ICZN (1999), a
referida espécie reverta à sua grafia correta original ("correct
original spelling"): Phylloscartes
paulista Ihering e Ihering 1907, em contraposição à sua subseqüente grafia
incorreta ("incorrect subsequent spelling"): Phylloscartes paulistus.
REFERÊNCIAS
BirdLife International
(2000) Threatened birds of the world.
Barcelona and Cambridge, U.K.: Lynx Edicions and BirdLife International.
Collar, N. J., L. P.Gonzaga,
N. Krabbe, A. Madroño Nieto, L. G. Naranjo, T. A. Parker III & D. C. Wege
(1992) Threatened Birds of the Americas.
Cambridge, U.K.: International Council for Bird Preservation.
Cory,
C. B. e C. E. Hellmayr (1927) Catalogue of birds of the Americas. Field Mus. Nat. Hist. Zool. Ser. 13,
part 5. [Publ. 242]
Coutinho, I. de L. (1976). Pontos de gramática
histórica. Rio de Janeiro: Ao Livro Técnico.
Cunha, A. G. (1982) Dicionário etimológico da
língua portuguesa. Rio de Janeiro: Nova Fronteira.
Houaiss, A. e M. S. Villar (2001) Dicionário
Houaiss da Língua Portuguesa. Rio de Janeiro: Objetiva. (Instituto Antonio Houaiss
de Lexicografia).
ICZN (1999) International Code of Zoological
Nomenclature. Fourth Edtion. London: International Trust for Zoological
Nomenclature.
Ihering, H. e R. Ihering
1907. As
aves do Brazil. Catálogos da Fauna Brazileira, Vol.1. São Paulo: Museu Paulista.
Jobling, J. A. (1991) A dictionary of scientific bird names.
Oxford: Oxford University Press.
MMA (1999). Avaliação e ações prioritárias para a conservação da biodiversidade
da Mata Atlântica e Campos sulinos. Brasília: Ministério do Meio Ambiente.
Pereira, I. (1998) Dicionário
Grego – Português e Português – Grego. 8a. edição. Braga:
Livraria Apostolados da Imprensa.
Souza, B. (1927) Onomástica geral da geographia brasileira. Rev. Inst. Geogr. Hist. Bahia 53:3-319.